Repensando materiais para aula de artes

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Durante meus anos letivos de artes na Educação Especial, uma grande questão sempre foram os materiais utilizados pelos alunos.

Percebi que o problema na realização das tarefas, muitas vezes não tinha a ver com a dificuldade motora e sim com a qualidade do material usado.

Quando o aluno estava com um lápis de cor muito duro (com muita cera na sua fabricação), mesmo empregando a força necessária para uma boa pintura, a pintura não cobria o desenho ou ficava fraca demais. Isso prejudicava o desenvolvimento, a autoestima e a avaliação do aluno. Se a tesoura não se adequava ao tamanho da mão do aluno, o corte saía diferente do planejado. Pincéis finos demais, muito pequenos ou com cerdas moles ou duras demais, também produziam o mesmo efeito indesejado. Canetas hidrográficas eram muito difíceis de manipular sem terem as pontas quebradas ou entortadas em um único uso, pois a maioria dos alunos empregava uma força não muito controlada na hora da pintura ou da escrita com esse material.

Depois de observar os resultados de várias atividades e perceber que não condiziam com a capacidade dos alunos, compreendi que o maior problema era o material usado.

Mudanças propostas nos materiais

Caneta hidrográfica: escolhi a caneta hidrográfica de ponta retrátil, apesar do custo mais elevado que as canetas hidrográficas comuns, a durabilidade era muito maior, pois a ponta era preservada no uso, independente da força usada nas pinturas.

Pote de tinta guache: em vez de pequenos potes de pintura a dedo, com cores variadas, preferi solicitar potes grandes de tinta guache apenas nas cores primárias, na cor preta e na branca. Assim, toda vez que a pintura necessitava de uma cor diferente, as misturas de cores precisavam ser feitas e com isso, essa técnica acabou virando parte rotineira da aula, gerando um reforço muito grande no aprendizado. Para distribuir as tintas eu usava copinhos de café de 50 ml, para evitar o desperdício de tintas, pois os potes de pintura a dedo ficavam manchados com várias cores, e isso impedia o propósito da aula de usar cores puras para fazer as misturas necessárias.

Tesoura: como dei aulas para idades que variavam muito (de crianças pequenas a adultos), a tesoura deveria ser de acordo com o tamanho da mão de cada aluno.

Pincel: solicitei dois tipos de pincéis chatos. Um com a cerda mais larga e outro com a cerda mais estreita.

Cola branca: as colas brancas eram compradas no tamanho usual (de 35 a 110g) e num tamanho maior (500ml a 1 litro). Quando os tubos acabavam, eu repunha a cola, usando a cola grande.

Cola bastão: uma unidade por aluno.

E porque cola branca líquida e de bastão? Porque os dois tipos são importantes para trabalhar motricidade fina com os alunos. Você pode fazer atividades serem frustrantes, caso use o tipo errado de cola para realizá-la.

Cola colorida: solicitei uma caixa por aluno.

Lápis de cor: solicitei uma caixa de lápis de cor com ponta macia, mais fácil de usar e que realmente pintasse a superfície do papel.

Lápis grafite: a mesma questão do lápis de cor. O melhor para os alunos era um lápis com um grafite fácil de deslizar, de preferência a partir de 2B.

Apontador: esse material deixei sem alteração, pois sempre haviam bons apontadores entre alguns não tão bons.

Caderno de desenho: na hora das atividades, percebi que o movimento dos alunos ficava mais fluído e assertivo quando a atividade era feita em folhas A4 (ou outros suportes) em relação ao caderno de desenho. Até porque alguns tinham um caderno de desenho muito pequeno, com tamanho inferior ao A4 e isso prejudicava demais o desempenho do aluno. Por isso, solicitei um pacote de folhas A4 (sem colocar limites de números de folhas. Eles traziam de acordo com as possibilidades que tinham).

Régua: solicitei uma régua de 30 centímetros.

Papel colorido: solicitei um pacote de papel criativo tamanho A4 com cores variadas. Alguns trouxeram papel sulfite colorido, que também foi aproveitado. Sobras de papel colorido eram aproveitadas em outras atividades.

Cartolina: não solicitei. Usava outros papéis (providos pela escola) para atividades em grupo/cartazes.

Glitter: solicitei dois potes pequenos por aluno.

Giz de cera: solicitei uma caixa de giz de cera (daqueles mais grossos).

Fita crepe: uma unidade por aluno.

Como isso foi possível?

Fiz uma conversa com os pais, explicando todos esses motivos da escolha de materiais e mesmo com algumas resistências, no segundo ano depois dessa proposta feita, os materiais certos começaram a ser os mais comprados.

Quais foram as benefícios dessas mudanças?

Economia na compra dos materiais

Caneta hidrográfica: Muitas canetas duravam o ano inteiro, fazendo com que a compra recorrente não fosse mais necessária. A caneta mais usada era a caneta preta (para contornos e outros fins) e por isso, era a única cor que precisava de reposição durante o ano. Para isso, no segundo ano, adicionei ao material solicitado uma caneta hidrográfica preta.

Pote de tinta guache: não foi necessário comprar potes de tinta por mais de dois anos.

Tesoura: não foi necessário comprar mais tesouras.

Pincel: não foi necessário comprar mais pincéis.

Cola branca: no segundo ano, não foi preciso comprar nem colas pequenas, nem grandes, pois havia material suficiente para todos ainda.

Cola bastão: continuei solicitando uma unidade por aluno, pois a maioria das colas que eles traziam não era de boa qualidade e ficava inutilizável rapidamente.

Cola colorida: não foi necessário comprar mais colas coloridas no ano seguinte.

Lápis de cor: não foi necessário comprar lápis de cor no ano seguinte.

Lápis grafite: apenas um lápis por ano era solicitado. Nos anos anteriores eram dois ou mais.

Apontador: não foi necessário comprar mais apontadores.

Caderno de desenho: substituído por folhas A4. No ano seguinte, não foi preciso solicitar mais folhas A4. Apenas no terceiro ano foi necessário.

Régua: não foi necessário comprar mais réguas.

Papel colorido: continuou o mesmo.

Glitter: não foi necessário comprar mais glitter.

Giz de cera: não foi necessário comprar giz de cera no ano seguinte, pois devido à grossura, poucos quebraram.

Fita crepe: não foi necessário comprar fita crepe no ano seguinte.

Melhorias no aprendizado dos alunos

Melhor fixação do conteúdo

No final do ano, a maioria dos alunos já havia entendido quais cores eram necessárias para conseguir a cor desejada, caso ela não estivesse disponível. Essa descoberta sempre causava um encantamento ou uma auto valorização incrível. A repetição das misturas foi super positiva.

Maior senso de comunidade escolar

Como o material era de uso coletivo, quando algum aluno não podia trazer certo material, ele podia usar o material fornecido por alunos que tinham condições. Com isso, o senso de comunidade era reforçado, o bom uso dos materiais era mais relevante para todos e os desperdícios eram evitados.

Aumento na qualidade dos materiais comprados

A redução na quantidade de materiais solicitados na lista anual, também fez com que a maioria dos responsáveis comprassem materiais melhores para os alunos.

E para mim, a professora, o que mudou?

Fazer uma lista de materiais anual personalizada

Eliminei muitos materiais que nunca seriam usados, mas que por padrão eram solicitados. Antes de passar a lista anual, eu verificava a real necessidade de cada material. Dava mais trabalho que apenas imprimir uma lista genérica todo ano? Sim, mas era muito gratificante ver os bons resultados ano após ano.

Procurar apoio de pessoas

Cada escola tem sua realidade e muitas vezes os alunos não tem condições de comprar materiais. Quando essa era a minha realidade, eu mesma comprava os materiais ou solicitava ajuda financeira de pessoas conhecidas. As pessoas geralmente estão abertas a dar esse apoio à escola, então pode ser uma solução nesses casos.

Última observação, mas não menos importante

É preciso ter empatia com os alunos, pois mesmo em escolas regulares ou em outras matérias, esses problemas com materiais usados em salas são recorrentes.
Observe e ajude seu aluno a ter um desenvolvimento melhor. Vale a pena demais!

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